Pensando alto sobre o Afeganistão: observações incompletas sobre a insurgência revolucionária

Não me surpreende que a imprensa ocidental continue a utilizar o termo “terroristas” para se referir ao Talibã – da mesma forma como fazia com o Estado Islâmico do Iraque e do Levante –. A imprensa (e não me refiro apenas à americana e inglesa), afinal, abraçou a estratégia da chamada “Guerra ao Terror” de Washington e Londres, e, assim, asseverar a adjetivação de “terrorista” é indispensável para alcançar a legitimação pelos consumidores da indústria de notícias do mundo globalizado (ou seria “americanizado”?) dos anseios do Império. Isso, obviamente adaptado aos seus próprios contextos, pode ser dito ainda mais certeiramente sobre as estratégias da China para convencer seus próprios cidadãos em relação a Xinjiang.

O fato é que o Talibã (assim como o Estado Islâmico) não é primariamente um grupo terrorista, mas sim um grupo revolucionário. E utilizar o termo apropriado não se trata apenas duma simples escolha retórica, mas de reconhecer as origens e os condicionantes da situação afegã (e paquistanesa) atual. O Talibã tem utilizado estratégias do terrorismo revolucionário para alcançar seus objetivos, dos quais o principal é a construção dum Estado revolucionário. Assim, reduzi-lo a um “grupo terrorista” é não compreender que não é a guerra que o destruirá, pois por trás da violência e morte que o acompanham está um pensamento político insurgente revolucionário.

A história está repleta de exemplos de uso do terrorismo revolucionário por grupos insurgentes com o intento de fundar um novo Estado: Jacobinos franceses, Bolcheviques russos, Khmer Rouge cambojano, Sionistas na Palestina, Islamistas em diferentes países do Oriente Médio, da Ásia e da África. A lógica é a de que um grupo rebelde ou um partido de vanguarda lidere o processo revolucionário.

Esses diferentes grupos revolucionários utilizam uma mescla de convencimento, intimidação, doutrinação e violência, com maior ou menor sucesso, para alcançarem seus objetivos. Mas tratá-los simplesmente como criminosos é ignorar que sua motivação é persistente e pode sobreviver – como o fez o Talibã – às divisões internas e aos ataques militares de seus inimigos…